Brasil e América Latina: Pontes Culturais que Nasceram nas Periferias

Fabio BenedictoCuriosidadesCinema & TVCultura Urbana6 meses atrás2K Visualizações

Enquanto os centros das grandes cidades concentram investimentos e visibilidade, é nas margens — nas quebradas, favelas e bairros periféricos — que pulsa a criatividade mais potente da América Latina. De Medellín a Salvador, de Buenos Aires a São Paulo, um movimento silencioso (e ao mesmo tempo barulhento) está conectando jovens latinos por meio de rimas, grafites, curtas-metragens e beats que carregam identidade, denúncia e desejo de transformação.

Do muro ao mundo: a arte urbana como ponte

A jovem grafiteira Camila Ortega, 23 anos, moradora do bairro Villa El Salvador, em Lima, Peru, conta que conheceu o trabalho de artistas de São Paulo pelo Instagram. “Vi um grafite do Crânio e fui atrás. Descobri que a quebrada aqui e lá compartilham temas parecidos: violência policial, racismo, exclusão, mas também orgulho, cor e sonho”, afirma.

Hoje, Camila participa de uma rede de artistas chamada Latinas em Tinta, que reúne mulheres grafiteiras de várias partes da América Latina, inclusive do Brasil. Juntas, elas organizam murais colaborativos online, exposições virtuais e encontros presenciais com apoio de ONGs locais.

No Grajaú, zona sul de São Paulo, o artista visual e educador Ícaro Lima, 27, faz parte do coletivo Quebra Lata, que promove oficinas de arte e colagens com referências da estética afroindígena. Ele vê nos intercâmbios uma forma de construir uma nova geografia cultural.

“A fronteira tá mais na cabeça de quem quer dividir do que nas ruas. Quando vejo um clipe da Guatemala com os mesmos beats que rolam aqui, percebo que a quebrada é uma só, com sotaques diferentes”, diz.

Cinema nas bordas: novas narrativas, velhas feridas

No México, a jovem cineasta Nayeli Cruz, 21, moradora de Iztapalapa (bairro periférico da Cidade do México), dirigiu um curta chamado Las Calles Hablan, que aborda o cotidiano de jovens artistas de rua. O filme circulou por festivais independentes do Brasil graças à rede Cine Quebrada, criada por realizadores da periferia de Fortaleza.

“O que me emociona é que temos histórias parecidas, dores parecidas, mas também uma vontade imensa de contar do nosso jeito. Isso nos conecta”, disse Nayeli em um encontro virtual com jovens do Complexo do Alemão, no Rio.

Mônica Silva, produtora cultural da ONG Perifacine Brasil, destaca a importância desses diálogos:

“A América Latina foi partida por interesses coloniais. Agora é a cultura periférica que tá remendando esse tecido com som, cor e voz.”

Som das ruas: trap, funk, cumbia e conexão

No mundo da música, os encontros são ainda mais intensos e velozes. Plataformas como TikTok e SoundCloud aproximam jovens artistas com poucos recursos, mas muita criatividade.

A dupla brasileira DJ Rhuan e MC Mayumi, ambos da zona leste de SP, lançou uma faixa com um beatmaker colombiano, Juanjo Beats, de Bogotá. A faixa “Perreo do Capão” mistura funk com reggaeton e viralizou em vídeos de dança no TikTok.

“Eu nunca saí do Brasil, mas meu som chegou em Medellín. Isso é muito louco. A internet virou o nosso passaporte”, diz DJ Rhuan, 19 anos.

Mais do que cultura: laços de resistência

Esses movimentos culturais não são apenas estéticos. Eles se tornam também ferramentas de resistência, afirma a socióloga Larissa Morán, pesquisadora de juventudes latino-americanas:

“As periferias latinas criam formas de viver e sobreviver que se comunicam. E essas trocas, mesmo sem estrutura, vão formando uma identidade continental — de luta, mas também de criação.”

Do rap chileno ao slam brasileiro, dos brechós de moda consciente aos podcasts feitos no fundo de casa, uma nova América Latina se desenha: mais conectada, mais popular, mais potente — e com cada vez mais pontes que nascem nas quebradas.

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