Durante décadas, a jornalista Glória Maria não apenas reportou os fatos. Ela os viveu, com intensidade, brilho e uma curiosidade insaciável que atravessou fronteiras e desafrouxo padrões. Primeira repórter negra da TV brasileira a ganhar projeção nacional, Glória foi muito além das estatísticas — foi símbolo de representatividade e excelência em um país marcado pelo racismo estrutural e pela desigualdade de oportunidades.
Sua trajetória, que inspirou milhões, agora é celebrada em um documentário especial exibido pela Rede Globo. Intitulado “Glória Maria – A Vida é Agora”, o filme presta uma homenagem comovente à mulher que atravessou mais de 100 países, colecionou entrevistas icônicas e desafiou estereótipos de todas as formas possíveis. O material reúne depoimentos de colegas, familiares e grandes nomes do jornalismo brasileiro, como Pedro Bial, Renata Vasconcellos, Sandra Annenberg, Zileide Silva e William Bonner — todos impactados pela genialidade e generosidade de Glória.
De favela à fama — sem perder o pé no chão
Nascida no Rio de Janeiro, Glória cresceu em uma realidade de poucas oportunidades. Negra, periférica e mulher, não teve privilégios. Ainda assim, estudou, aprendeu idiomas, conquistou espaço com esforço e enfrentou de frente o preconceito.
O documentário explora com profundidade esses bastidores: as dificuldades que ela enfrentou no início da carreira, os momentos de racismo velado e declarado, e o quanto ela foi pioneira em sua forma de fazer televisão com alma.
A América Latina no olhar de Glória
Glória Maria conheceu o mundo — mas foi na América Latina que viveu experiências profundamente humanas. Em suas reportagens para o Globo Repórter, viajou ao Peru, Equador, Cuba, Colômbia, Nicarágua e tantos outros países para mostrar o que há por trás dos cartões-postais: povos, crenças, culturas ancestrais e resistências modernas.
Em Quito, ela acompanhou cerimônias indígenas e rituais de cura. Em Havana, registrou o cotidiano de uma juventude vibrante em meio ao regime fechado. Em Medellín, ouviu jovens que trocaram as armas pelo break e o hip hop. E em Machu Picchu, caminhou com mulheres que preservam tradições milenares dos Incas. Essas imagens estão entre os destaques emocionantes do documentário.
O poder da escuta e a arte de entrevistar
Glória foi responsável por entrevistas históricas com personalidades como Michael Jackson, Madonna, Freddie Mercury, Nelson Mandela e Dalai Lama. Mas também deu espaço para histórias invisibilizadas: de ribeirinhos no Amazonas a pescadoras do litoral baiano. O documentário revela os bastidores dessas conversas, mostrando como Glória preparava suas entrevistas com atenção e empatia — sem script engessado, mas com verdade.
Depoimentos exclusivos no filme e além
“Ela foi a repórter que abriu caminho para todas nós. Com coragem, com estilo, com classe. Glória não era só um nome — era uma ideia de liberdade.”
— Zileide Silva, jornalista da Globo News, no documentário.
“Glória era capaz de entrevistar o presidente de um país com a mesma atenção com que falava com uma criança no interior do Brasil. Ela fazia jornalismo com o coração.”
— Pedro Bial, jornalista e amigo pessoal.
Conclusão:
O documentário “Glória Maria – A Vida é Agora” não apenas revisita uma carreira brilhante — ele eterniza um espírito que jamais será esquecido. Glória Maria não representou apenas a televisão, mas a possibilidade de existir com liberdade e coragem.
Para as jovens negras do Brasil e das Américas, seu legado ecoa como um grito de afirmação: somos capazes, somos potentes e temos o direito de ocupar todos os espaços.
Glória vive — em cada pauta ousada, em cada história bem contada, em cada mulher preta que ousa sonhar grande.