Cidade Negra: reggae, identidade e resistência em forma de som

Fabio BenedictoEntrevistasEducação Cultural4 meses atrás685 Visualizações

Toni Garrido e Bino Farias integrantes da banda Cidade Negra - (crédito: Arquivo)

Com três décadas de trajetória, a banda que deu voz às periferias e uniu reggae, pop e brasilidade continua firme no palco e na mensagem: “Ser negro, ser brasileiro, ser livre”

No cenário musical brasileiro, poucas bandas conseguiram ser tão atuais e atemporais quanto a Cidade Negra. Nascida na Baixada Fluminense, nos anos 80, em meio ao calor das desigualdades sociais e ao pulso forte das ruas, a banda transformou dor em arte, e arte em discurso. Mais que uma banda de reggae, o Cidade Negra se tornou símbolo de resistência, consciência e celebração da cultura negra brasileira.

Mesmo após mais de 30 anos de estrada, o grupo continua lotando shows, emocionando plateias e inspirando novas gerações. Em tempos de polarização e urgência por representatividade, suas letras ganham ainda mais força e atualidade.

“A gente sempre teve consciência de que nossa missão ia além da música. Era sobre falar do povo preto, da periferia, da liberdade. E isso nunca saiu do nosso foco”, diz Toni Garrido, vocalista e rosto mais reconhecido do grupo, em entrevista exclusiva ao Pulso Latino.


Do reggae à alma do Brasil

Formado originalmente em 1986, em Caxias (RJ), o Cidade Negra surgiu com uma proposta ousada: misturar reggae jamaicano com elementos da MPB, soul, pop e ritmos afro-brasileiros, criando uma identidade sonora única. Mas o que realmente impulsionou o grupo ao estrelato foi sua capacidade de traduzir a realidade brasileira em poesia e groove.

Hits como:

  • “A Sombra da Maldade”

  • “Onde Você Mora?”

  • “Firmamento”

  • “Girassol”

  • “Pensamento”
    viraram hinos nacionais, tocando das rádios às quebradas, das novelas aos bailes.

“As letras sempre vieram da rua. Do que a gente vive, vê e sente. O reggae foi só o canal pra espalhar tudo isso”, explica Lazão, baterista e fundador da banda.


Nova fase, mesma essência

Hoje, com Toni Garrido de volta aos vocais desde 2011 e uma formação consolidada com Bino Farias (baixo) e Lazão (bateria), o grupo mantém o legado vivo, apostando em novos arranjos e parcerias. Recentemente, a banda lançou faixas inéditas e participou de festivais como João Rock e Afropunk, reafirmando seu papel de ponte entre gerações e estilos.

“Estamos mais maduros, mas ainda com o mesmo brilho no olho. A música precisa acompanhar o tempo e continuar relevante. E a gente acredita que reggae é transformação, não repetição”, diz Bino.

Além de músicas novas, a banda está trabalhando em um documentário biográfico, que mostrará bastidores de turnês, processos criativos e histórias pessoais marcadas por racismo, superação e arte.


A força da representatividade

O Cidade Negra foi uma das primeiras bandas negras a alcançar o topo do mainstream brasileiro, sem negar sua origem periférica e sua estética afro. Em tempos onde o debate racial avança com mais força, a história do grupo ganha nova luz.

“Ser preto no Brasil nunca foi fácil. Quando a gente subia num palco, era pra cantar e pra existir. E isso foi inspirando outros. Hoje tem muita gente fazendo arte preta potente — e isso é bonito de ver”, afirma Toni.


Fãs que atravessam gerações

Em um show recente no interior paulista, a reportagem do Pulso Latino encontrou na plateia desde fãs que acompanham a banda desde os anos 90 até jovens que descobriram as músicas por playlists ou TikTok.

“Minha mãe me ensinou a ouvir Cidade Negra. Hoje, eu canto com meus filhos. É a trilha sonora da nossa família”, disse Patrícia Mello, 39 anos, fã desde a adolescência.


Legado que vai além da música

Com projetos sociais, campanhas pela educação, discursos antirracistas e um compromisso assumido com a cultura como instrumento de transformação, a Cidade Negra é um símbolo de resistência positiva.

“A gente não quer só entreter. Quer tocar a alma, despertar consciência, gerar movimento”, resume Toni.


O futuro é agora

Mesmo com mais de 30 anos de carreira, a banda não sinaliza nenhum encerramento. Pelo contrário: 2025 marca uma nova fase, com:

  • Lançamento de álbum com parcerias inéditas

  • Turnê especial pelos 40 anos (em preparação)

  • Projeto audiovisual com releituras acústicas dos maiores sucessos

  • Participação em eventos internacionais de reggae e cultura afro


Conclusão: um som que continua necessário

Cidade Negra segue fazendo reggae com propósito, arte com impacto e música com alma. Em tempos de gritos e divisões, sua voz segue firme: cantando por igualdade, fé, amor e justiça. E se depender da energia dos palcos, o pensamento positivo segue vencendo a negatividade — como sempre foi.

1986 – Formação da banda em Caxias (RJ), com o nome de “Lumiar”, depois alterado para “Cidade Negra”.

1991 – Lançamento do primeiro álbum, Lute Para Viver, com o vocalista Ras Bernardo.

1994 – Toni Garrido assume os vocais. É lançado o disco Sobre Todas as Forças, com o hit A Sombra da Maldade.

1996 – Estouram com O Erê, álbum que traz Firmamento e Pensamento.

1998–2005 – Consolidação como uma das bandas mais populares do país; participação em trilhas de novelas, turnês internacionais.

2008 – Toni sai da banda. Entra Alexandre Massau como vocalista.

2011 – Toni retorna à formação oficial. Banda lança novas faixas e inicia nova fase.

2024–2025 – Shows nos maiores festivais do Brasil, produção de documentário e projetos para o aniversário de 40 anos da banda.

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