O maranhense que transformou palavras em melodias e melodias em histórias celebra 30 anos de carreira com um novo álbum que atravessa memórias e horizontes.
Há artistas que passam. E há artistas que ficam. Zeca Baleiro é daqueles que se instalam no imaginário, ocupando um lugar entre o lirismo e a ironia, entre o amor e a acidez, entre o palco e a página em branco. Trinta anos depois de Por Onde Andará Stephen Fry?, ele continua a cantar como quem escreve cartas para o vento — sabendo que, cedo ou tarde, alguém vai encontrá-las.
O novo projeto é um álbum duplo, mas poderia ser chamado de diário. Um lado é voz e violão, lembrando as noites de bar em São Luís, quando a música ainda cabia em um bolso de camisa. O outro é elétrico, experimental, feito para quem gosta de se perder e se achar de novo no mesmo refrão. “Não é para ouvir de qualquer jeito”, avisa Zeca. “É para sentar, respirar e se deixar atravessar.”
No estúdio, Zeca trata a canção como um artesão trata a madeira: com paciência, corte preciso e um certo respeito pelo inesperado. “A letra vem primeiro, quase sempre. Depois eu visto essa letra com a melodia certa. É como escolher a roupa para um encontro importante.”
Suas palavras têm cheiro de mar e gosto de estrada. Falam de amores que resistem, de partidas que doem e de pequenos absurdos do cotidiano. E, no meio de tudo, o humor que salva.
A turnê que acompanha o lançamento vai percorrer teatros e festivais no Brasil e em Portugal. No setlist, clássicos como Telegrama e Flor da Pele se encontrarão com inéditas que, provavelmente, nascerão clássicos. “A graça é essa: revisitar sem virar estátua, olhar para frente sem esquecer o caminho.”
Trinta anos se passaram, mas a sensação é que Zeca Baleiro ainda está começando. Talvez porque, para ele, cada disco é um recomeço. E enquanto houver canção, haverá um Zeca disposto a transformar silêncio em melodia.
Trinta anos após o lançamento de seu primeiro álbum, Zeca Baleiro segue como uma das vozes mais inventivas e inquietas da música brasileira. Compositor, intérprete e contador de histórias, o maranhense mistura MPB, rock, reggae, samba e música regional sem medo de cruzar fronteiras. Agora, ele se prepara para lançar um álbum duplo que promete revisitar suas origens e apresentar novas experimentações sonoras.
“Eu sempre vi a música como um território de invenção. Não tenho paciência para fórmulas repetidas. Meu próximo disco é uma mistura de coisas que eu ouvia na infância, sons que me encantam hoje e outras maluquices que inventei no estúdio”, conta, rindo.
Nascido em São Luís (MA), José Ribamar Coelho Santos começou na música ainda jovem, tocando em bares e festivais locais. O sucesso nacional veio em 1997, com o álbum Por Onde Andará Stephen Fry?, que revelou canções como Lenha e Flor da Pele. Desde então, lançou mais de 15 discos, acumulou prêmios e construiu uma base fiel de fãs.
“Se eu olhar pra trás, acho que o maior presente da minha carreira foi nunca ter me entediado. Sempre tive liberdade para criar e isso é um privilégio raro.”
O projeto em andamento terá duas partes: um disco voltado para canções mais intimistas, gravadas em voz e violão, e outro mais elétrico, com banda completa e arranjos ousados. Entre as participações confirmadas estão Gal Costa (em registro póstumo), Tulipa Ruiz e Nando Reis.
“Não é um disco para se ouvir correndo. Quero que as pessoas se sentem, tomem um café ou um vinho e entrem na viagem comigo.”
Além de cantor, Zeca Baleiro também é escritor, com livros de poemas e crônicas publicados. Para ele, a canção é apenas mais uma forma de exercitar a escrita.
“A letra vem antes da melodia, quase sempre. É como se a música fosse a moldura para o quadro que já existe. Sou um contador de histórias, e às vezes a música é só mais uma maneira de narrar.”
Questionado sobre a nova geração de artistas, Zeca demonstra entusiasmo: “Tem muita gente boa chegando, gente que não está preocupada com modismos e que sabe se comunicar com verdade. Isso é o que me mantém otimista.”
Ele também defende a importância da independência artística: “Hoje é mais fácil gravar, mas também é mais difícil se destacar. O segredo é não se perder tentando agradar a todo mundo.”
Além do álbum duplo, Zeca prepara uma turnê comemorativa dos 30 anos de carreira, com shows no Brasil e em Portugal. O repertório deve misturar clássicos, lados B e canções inéditas.
“Meu maior desejo é continuar surpreendendo — primeiro a mim mesmo, depois o público. Enquanto houver música, haverá um Zeca curioso por aí.”