
Em entrevista comovente ao Fantástico, cantor e ator revela como a morte brutal do irmão o empurrou para as ruas e como a música foi a ponte para uma vida digna e vitoriosa
Na noite de domingo (25), milhões de brasileiros pararam para ouvir uma das entrevistas mais tocantes do ano. No quadro “Pode Perguntar” do Fantástico, o cantor e ator Seu Jorge, de 54 anos, abriu o coração ao público e revelou capítulos difíceis, íntimos e transformadores da própria vida — da violência que destruiu sua família até os anos que passou vivendo em situação de rua no Rio de Janeiro.
“Fui mesquinho, por muito tempo… Eu achava que estava no controle de tudo, mas a vida tinha outros planos”, confessou com os olhos marejados, relembrando o assassinato do irmão, Vitório, morto por uma chacina aos 19 anos. O crime brutal, que envolveu uma execução na Baixada Fluminense, não apenas silenciou um jovem cheio de sonhos, mas desmoronou a estrutura emocional e financeira de toda a família.
Sem apoio psicológico, sem perspectiva e tomado por um luto que parecia não ter fim, Seu Jorge viu sua própria vida ruir. Ainda jovem, ele foi expulso de casa e acabou vivendo sete anos em situação de rua. “Foram anos difíceis… Embaixo de marquises, viadutos, lugares onde só quem já esteve lá consegue entender o que é viver sendo ignorado todos os dias”, relembrou.
Mas, mesmo nos momentos mais sombrios, Seu Jorge carregava um violão como se fosse um escudo invisível contra a crueldade do mundo. Era ele quem o mantinha humano. “Com o instrumento na mão, eu deixava de ser só um morador de rua. Eu era alguém que tocava, que cantava, que ainda tinha algo pra oferecer”, contou.
Foi a arte — especialmente a música e o teatro — que o resgatou do abismo. Participou de oficinas culturais, conheceu pessoas que reconheceram seu talento e o ajudaram a entrar no grupo teatral Nós do Morro, no Vidigal. Dali, não demorou até que o Brasil inteiro descobrisse Seu Jorge: primeiro como músico, depois como ator — com destaque em filmes como Cidade de Deus e até mesmo produções internacionais como The Life Aquatic with Steve Zissou e Marighella.
Apesar da fama, dos palcos e do sucesso internacional, Seu Jorge não se esquece da dor de sua origem. Ao longo da entrevista, ressaltou como a perda do irmão moldou seu caráter e sua visão de mundo, o tornando mais empático, mais cauteloso com julgamentos e profundamente consciente das desigualdades do Brasil.
“Hoje eu sei o quanto a sociedade falha com quem está em vulnerabilidade. Eu vivi isso. Mas também sei que existe uma força que nos empurra pra frente, quando a gente acredita que é possível”, disse, emocionado.
A entrevista também trouxe reflexões importantes sobre masculinidade, perdão, reconstrução pessoal e saúde mental, especialmente para jovens negros e pobres que enfrentam realidades semelhantes às que ele enfrentou.
“Meu sucesso não apaga meu passado. Mas ele mostra que a gente pode vencer, sim. Não é fácil. Mas é possível. E a arte foi meu caminho de volta.”
A repercussão da entrevista tomou conta das redes sociais. Personalidades do meio artístico, ativistas e anônimos manifestaram apoio, admiração e gratidão ao artista pela coragem de se expor de forma tão honesta e inspiradora. “Hoje, Seu Jorge deu voz a milhares que vivem silenciados pelas ruas”, escreveu uma seguidora.
Com essa nova exposição, o artista reafirma o seu lugar não apenas como cantor e ator de renome, mas como uma voz potente da resistência, da superação e da esperança.






